Demência digital e o desafio no novo mundo.
À medida que avançamos mais um era tecnológica é importante relembrarmos que a tecnologia surgiu para resolver problemas, mas acabou criando tantos outros desafios. Muitas pessoas subutilizam as ferramentas digitais devido ao medo de que a automação substitua o trabalho humano. No entanto, essa resistência é alimentada por economias frágeis, especialmente em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
É fácil entender por que isso acontece.
Inclusive fica como referência a esse tema o livro "Demência Digital", do Dr. Manfred Spitzer, que mais a frente abordaremos.
Em países onde o trabalho repetitivo é barato é regra que empresas relutem em investir em tecnologia e no desenvolvimento profissional de seus colaboradores. Ensinar alguém a pensar criticamente e resolver problemas é umas das mais caras ações para uma empresa, além de significar muito trabalho e investimento de capital a longo prazo.
Enquanto isso, nos países onde o capital é menos escasso, os serviços repetitivos são realizados com má vontade e quase não há mão de obra disponível para esse tipo de trabalho, o que leva os inventores (entenda aqui as próprias empresas) a investir muito capital em desenvolvimento de tecnologias para substituir esses trabalhos, que torna o conhecimento limitado a uma pequeníssima parte.
Seja em qualquer um dos cenários acima, tal mentalidade está levando uma geração de jovens a perder habilidades cognitivas e capacidade de pensamento crítico. Os jovens têm passado horas diante de telas, absorvendo conteúdo superficial e se comparando a influenciadores digitais. Isso impede o desenvolvimento de habilidades essenciais, como pensamento crítico e resolução de problemas. Estamos testemunhando uma epidemia de uso equivocado da tecnologia, que está afetando não apenas os indivíduos, mas toda a sociedade.
Uma mentalidade ou até um conjunto de ações que muitas vezes leva a práticas insustentáveis, como oferecer salários e benefícios acima do que a empresa pode suportar a longo prazo. O resultado? Prejuízo, demissões em massa e uma cultura de ilusão e superficialidade.
Aqui voltamos ao Dr. Manfred Spitzer e sua análise detalhada sobre como a sociedade, especialmente os jovens entre 15 e 30 anos, está sendo afetada por estímulos digitais equivocados é verdadeiramente reveladora.
O Dr. Spitzer questiona se a facilidade de acesso à informação proporcionada pelo Google está tornando as pessoas menos propensas a buscar conhecimento de forma profunda e significativa e isso cria um era de gratificação instantânea, onde tudo está ao alcance de um clique, e não mais nossa capacidade de pensar de forma crítica e criativa.
No mundo corporativo, a demência digital é um assunto sério e pouco discutido, pois estamos tão ocupados com nossas tarefas diárias que deixamos de lado a importância de falar sobre os efeitos negativos da tecnologia em nossas vidas e em nossas mentes. É hora de despertar para a realidade e começar a debater abertamente sobre esse tema.
Será que você já falou com seus colaboradores para eles pensarem a respeito do trabalho que realizam? Será que não podem despertar um senso crítico, falar sobre processos, melhorias e pensar como a tecnologia pode ajudá-los, e não os limitar? Será que não podemos pensar em formas de usarmos a tecnologia a nosso favor?
É hora de pensar um equilíbrio entre os benefícios da tecnologia e os perigos da dependência excessiva dela. É hora de repensar nossa relação com a tecnologia e começar a investir no desenvolvimento das habilidades cognitivas dos jovens.
O futuro da nossa sociedade depende disso.